segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sensatez de um Pastor Evangélico

É uma visão tão ampla, tão bonita, tão desprovida de cerca e
salvação que merece o encaminhamento. A visão e vivência é holística!

Bom de ler e prazeroso de divulgar.

Uma parte dos atletas, entre eles, Robinho, Neymar, Ganso e Fabio Costa, se
recusou a entrar numa entidade que cuida de exepcionais mantida por uma
casa espírita, e preferiu ficar dentro do ônibus do clube, sob a
alegação que são evangélicos.
Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles
não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre
em fazer a cabeça dos outros. Por isso cada vez mais me convenço que o
Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico
a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da
religião.

A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos
morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos
conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.

Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o
inferno, ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo, ou
mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na
igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião.
Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a
ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro
certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando
você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista,
evangélica, ou católica, você está discutindo religião.

O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as
pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A
religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores
de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores
de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de
adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua
religião, o que faz com que os outros deixam de existir enquanto outros e
se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em
nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um
ídolo que pretende se passar por Deus.

Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores
como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade,
amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas
as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de
espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Os
valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os
discordantes no mundo das crenças se dêem as mãos no mundo da busca de
superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala,
independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.

Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no
ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião
ensina – ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um
ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma
paralisia mental.


“Para mim, as diferenças religiosas são flores provenientes do mesmo
jardim. São ramos da mesma árvore majestosa. Portanto, são todas
verdadeiras .’ (Gandhi) 

Por Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde
pequeno. 

sábado, 3 de julho de 2010

Um segredo........que nunca revelei ( Ruben Alves )

Tenho uma ternura especial pelas coisas fracas, que não sabem ou não conseguem se defender. E não só a fraqueza física: são as humilhações silenciosas que dilaceram a alma dos fracos.

Costumava caminhar num jardim que terminava em frente a uma escola. Observava meninos e meninas que iam juntos, bonitos, esbanjando alegria. Mas havia uma menina muito gorda que caminhava sempre só. Nunca vi um gesto dos alegres e bonitos convidando-a a juntar-se ao grupo. E ela nem tentava. Havia outra, magra, alta, sem seios, rosto coberto de espinhas, encurvada como se quisesse esconder-se dentro de si.

Ficava pensando que havia nelas uma mocinha que desejava ser amada. O que pensavam quando iam para a cama? Certamente choravam. Mas essas percepções não passavam pela cabeça dos outros.

No Ginásio era assim também. Os bonitos se juntavam. Os feios eram deixados de lado. Um incidente ocorrido há 60 anos continua vívido na minha cabeça. Era uma moça feia, desengonçada, magra. Jamais a vi conversando com um menino ou sorrindo. Entrava na sala e ia para sua carteira, encostada na parede. Um dia, chegou atrasada, a turma já assentada. Não havia jeito de se esconder, desfilou diante de todos. E foi então que um colega deu um daqueles assobios… A classe estourou na gargalhada. Ela continuou a caminhar, as lágrimas escorrendo.

Tive vontade de berrar, um grito de ódio, mas nada fiz. Porque também era fraco e feio e ridículo. Ela é a única colega cujo nome não me esqueci. Suas iniciais eram I.K. Eu era novo no Rio de Janeiro, vindo do interior de Minas, onde ir à escola de sapato era um luxo. Fui ao colégio no primeiro dia de aula com sapato sem meia. Todos riram. No dia seguinte, fui de meia. Não adiantou. Riram-se do meu sotaque caipira. Tornei-me vítima dos valentões. Apanhei muito em silêncio porque não sabia me defender. Não tinha a quem apelar. Acontecia na rua, fora do olhar dos professores. Meus pais não saberiam o que fazer. Minha mãe me daria o único conselho que sabia dar: “Quando um não quer dois não brigam”. É verdade, quando um não quer, um bate e o outro apanha.

Uma pessoa querida me disse que tenho raiva das mulheres. Fico a pensar se essa raiva não tem raízes na minha mãe, que só me ensinava a não reagir, que desejava que eu fosse fraco e não enfrentasse a luta. A pancada que mais doeu foi dada por um colega que se dizia filho de governador, rico, arrogante, ouro nos dentes. Sem motivo, na hora do recreio veio até mim e disse: “Você é ridículo…”

Essas experiências não podem ser esquecidas. A gente faz força para não as revelar, por vergonha. Durante toda a vida, foram um segredo só meu. Nunca as contei nem para os amigos mais íntimos. É a primeira vez que as revelo.

Fui me enchendo de vergonha e de humilhação. Daí nasce o ódio. À medida que crescia e me tornava adulto, esses sentimentos criaram em mim um lado que não suporta a injustiça dos fortes contra os fracos. O que me leva, por vezes, a fazer coisas imprudentes a favor dos fracos, mesmo com risco de ser agredido.

Mas há algo que me magoa. É como se a minha pele de ternura, de voz baixa, de poesia, que deseja proteger as coisas fracas, morasse no mesmo quarto onde mora esse jeito bravo. E, de vez em quando, sem me dar conta, fico irônico, impaciente, a voz se encrespa. Imagino que isso aconteça quando, lá no meu inconsciente, onde mora o menino ridículo que apanhava, o sentimento de humilhação aparece. Magoei muitas pessoas com esse meu jeito, algumas de forma irremediável. Por isso estou triste. Mais triste porque sei que hoje, no mundo todo, os fracos são humilhados e apanham…


Rubem Alves Educador e escritor
rubem_alves@uol.com.br