quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

LIMITES

Somos as primeiras gerações de pais decididos a não repetir com os filhos, os erros de nossos
progenitores...
...e com o esforço de abolirmos os abusos do passado...
...somos os pais mais
dedicados e compreensivos 
mas, por outro lado...
...os mais bobos e inseguros que já houve na história.
O grave é que estamos
lidando com crianças mais “espertas” do que nós, ousadas, e mais                  
“poderosas” que nunca !
Parece que, em nossa tentativa de sermos os pais que queríamos ser, passamos de um extremo ao outro.
Assim, somos a última geração de filhos que obedeceram a seus pais...
... e a primeira geração de pais que obedecem a seus filhos.
Os últimos que tivemos medo dos pais....
...e os primeiros que tememos  os filhos.
Os últimos que cresceram sob o mando dos pais...
E os primeiros que vivem sob o jugo dos filhos.
E, o que é pior...
...os últimos que respeitamos nossos pais...
...e os primeiros que aceitamos que nossos filhos nos faltem com o respeito
À medida que o permissível substituiu o autoritarismo, os termos das relações familiares mudou de forma radical...
...para o bem                                   
 e para o mal.
Com efeito, antes se considerava um bom pai, aquele cujos filhos se comportavam bem, obedeciam suas ordens, e os tratavam com o devido respeito.
E bons filhos, as crianças que eram formais, e veneravam seus pais, mas à medida em que as fronteiras hierárquicas entre nós e nossos filhos foram  se desvanecendo...
...hoje, os bons pais são aqueles que conseguem que seus filhos os amem, ainda que pouco o respeitem.
E são os filhos, quem agora, esperam respeito de seus pais, pretendendo de tal maneira que respeitem suas ideias, seus gostos, suas preferências e sua forma de agir e viver.
E que além disso, que patrocinem no que necessitarem para tal fim.
Quer dizer ;                                                     
os papéis se inverteram
Agora são os pais que têm que agradar a seus filhos para “ganhá-los” e não o inverso como no passado.
Isto explica o esforço que fazem  tantos pais e mães para serem os melhores amigos e “darem tudo” a seus filhos.
Dizem que os extremos se atraem.
Se o autoritarismo do passado encheu os filhos de medo de seus pais...
...a debilidade do presente os preenche de medo e menosprezo...
aos nos verem tão débeis e perdidos como eles.
Os filhos precisam perceber que durante a infância, estamos à frente de suas vidas, como líderes
capazes de sujeitá-los quando não os podemos conter...
... e de guiá-los, enquanto não sabem para onde vão...
É assim que evitaremos que as novas gerações se afoguem no descontrole e tédio no qual está afundando uma sociedade que parece ir à deriva, sem parâmetros nem destino.
Se o autoritarismo suplanta, o permissível sufoca.
Apenas uma atitude firme, respeitosa, lhes permitirá confiar em nossa idoneidade para governar suas vidas enquanto forem menores, porque vamos à frente liderando-os...
...e não atrás, carregando-os e rendidos às suas vontades.
Os limites    abrigam o indivíduo.

Com amor ilimitado  e  profundo respeito.
Mônica Monastério
( Madrid-Espanha ).

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Coração Novo - Gabriel Chalita

Estamos acostumados aos rituais, às comemorações, às celebrações. Quando um ano se encerra e outro se inicia, celebramos o dia da paz, a confraternização entre os povos. Quando um novo ciclo se inicia, somos convidados a renovar algo em nós. Quem sabe, neste novo ano, possamos ter um coração novo.
O coração é a metáfora dos sentimentos, das intenções. Um coração envelhecido é aquele que desistiu de amar, que não acredita na humanidade e que, consequentemente, se fecha. E é, por isso, solitário. A solidão pela ausência do amor envelhece o coração.
As desculpas para um coração envelhecido recaem nas decepções com as pessoas que amamos. Reclamamos dos erros dos outros, lamentamos as atitudes incorretas dos nossos irmãos e, assim, optamos pelo fechamento. Vivemos condenando nossa triste situação. Pais, filhos, amigos, parece que não há ninguém de valor ao nosso lado. Pensamos como seria bom se eles mudassem, se eles melhorassem.
No ano que passou, vivi momentos de muita emoção. Um deles ao lado do meu querido irmão Dunga. Eu fazia uma pregação em um grupo de oração em Presidente Prudente. Enquanto isso, ele compunha o refrão de uma música. A reflexão era sobre as mudanças que temos de fazer para que nosso irmão seja mais feliz.
E o refrão diz exatamente isso: Quem tem que mudar sou eu para que você seja mais feliz.
Eu escrevi o restante da música que fala em aprendizado, em perdão, em saber ouvir, em lembrar que não há ninguém perfeito. E que, talvez, precisemos do tempo da boa ingenuidade de volta, do sorriso leve, dos sonhos dos primeiros encontros.
O tempo pode ser uma boa escola. A tolerância, o respeito às limitações do outro e às nossas próprias limitações, a bondade no julgar. É uma lição de vida a reflexão de Madre Teresa de Calcutá:
Quem julga as pessoas não tem tempo para amá-las.
Às vezes, os pais exigem dos filhos algo que não podem dar. O inverso
é verdadeiro. E na relação entre o casal também. Cada ser é único. E talvez grande parte dos erros, dos equívocos, não sejam intencionais.
Meu irmão, não espere que o outro mude. Mude você. Diga à pessoa que você ama:
Quem tem que mudar sou eu para que você seja mais feliz.
E se precisar, complete com Madre Teresa: não vou perder tempo te julgando, quero gastar esse tempo te amando.
E é esse o convite para o novo ano. A consciência de que a sua família será melhor se você for melhor. Que o seu trabalho será melhor se você for melhor. Que o mundo, esse grande coração que pulsa, será renovado se o seu coração for renovado.
Feliz ano novo, feliz coração novo.
Gabriel Chalita
(Revista Canção Nova, jan.2011)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sinto Vergonha de Mim

O poema de Rui Barbosa, transcrito a seguir, é de uma impressionante atualidade.
Poderia ter sido escrito hoje sem mudar uma palavra...

Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia, pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez
no julgamento da verdade, a negligência com a família,
célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação
com o "eu" feliz a qualquer custo, buscando a tal "felicidade"
em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido, a tantos "floreios" para justificar
atos criminosos,a tanta relutância em esquecer a antiga posição
de sempre "contestar", voltar atrás
e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões
e do meu cansaço. Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto".

Rui Barbosa