quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Juventude

Frequentemente se diz que os jovens perderam o respeito, os ideais, a meta. Ora, isso não é de hoje; sempre o jovem recebeu uma pecha de arquétipos negativos. Há 5000 anos, no alto nilo, uma pedra recobriu um túmulo egípcio. Nela estava gravada esta frasedesconsolada: "A juventude está se desagregando".
Há uma bela inscrição feita em granito, que se encontra em um jardim em Verona, na Itália:
 
A juventude não se mede pela idade.
Juventude é um estado de espírito que se baseia no querer.
Juventude é a disposição para fantasias, a ponto de transformar em realidade a fantasia.
Juventude é a vitória da disposição contra a acomodação.
Juventude é o gosto pela aventura, superando o amor ao conforto.
Ninguém envelhece simplesmente porque viveu determinado número de anos.
Envelhece aquele que abdica dos ideais.
Assim como o passar dos anos se reflete no organismo, a falta de empolgação se reflete na alma.

Ser jovem pode significar ter 60 ou 70 anos e conservar a admiração pelo belo, pelo fantástico, pelas idéias brilhantes, pela fé nos acontecimentos. Pode significar conservar o desejo insaciável da criança por tudo o que é novo, o instinto pelo que é agradável, pelo lado feliz da vida.
Ser jovem é não perder a capacidade de indignação e de luta. A aceitação passiva de todas as mazelas sociais e políticas é característica de quem perdeu a juventude. O jovem acredita no sonho, na utopia, na transformação da realidade. Ele sofre com a injustiça e clama por tempos melhores. O jovem é simples e tem uma fantástica disposição para a vida sem temer o novo; conserva uma mensagem de grandeza e de força que é peculiar ao ser humano. Essa é a marca de mulheres e homens que entregaram a juventude para grandes causas, a marca dos que não se acovardaram.

(In: Gabriel Chalita. A solução está no afeto, 2001, pág. 35)
Imagem: http://brunocovas45145.com.br/wp-content/uploads/2010/08/a_juventude_pode_mover_o_mundo.jpg


LEMBRANÇAS

Não gosto de falar da infância. É um tempo de coisas boas, mas sempre com pessoas grandes incomodando a gente, estragando os prazeres. Recordando o tempo de criança vejo por lá um excesso de adultos, todos eles, mesmo os mais queridos, ao modo de soldados e policiais do invasor, em pátria ocupada.
Fui rancoroso e revolucionário permanente, então. Já era míope, e nem mesmo eu, ninguém sabia disso. Gostava de estudar sozinho e de brincar de geografia. Mas tempo bom de verdade só começou com a conquista de algum isolamento, com a segurança de poder fechar-me num quarto e fechar a porta. Deitar no chão e imaginar estórias, poemas, romances, botando todo mudo conhecido como personagem, misturando as melhores coisas vistas e ouvidas.
Guimarães Rosa