domingo, 4 de outubro de 2009

O que é uma pessoa feliz ?


Posso responder a essa pergunta de maneira geral e abstrata: uma pessoa é feliz quando faz o que lhe dá prazer e quando vive uma relação de amor-amizade com alguém. Essa definição, que considero verdadeira, nunca se realiza. A gente nunca está fazendo só o que gosta. A vida nos obriga a fazer muitas coisas desagradáveis.Além disso, essa relação de amor-amizade só acontece durante um momento ou em períodos curtos. É logo interrompida por uma série de fatores indesejáveis, que nos tornam intolerantes, irritadiços, distantes.Essa transformação aparece na mudança da música da fala. "Felicidade mesmo, ser feliz como estado permanente, não existe. Acontece em raros momentos de distração", define Guimarães Rosa.
Mas sei de duas condições sem as quais esses raros momentos de distração  - são eles que dão sentido à vida - não podem acontecer. Primeiro, é preciso que a gente tenha alegria no que está fazendo. O fazer dá prazer.
Rubinstein, pianista maravilhoso, disse certa vez em tom de brincadeira durante uma entrevista: "Não conte ao meu empresário. Eu seria capaz de pagar para tocar piano". Para ele, o trabalho era uma brincadeira. Barbette cozinhava não pelo salário, mas porque lhe dava alegria. Até gastou o dinheiro de um prêmio de loteria para dar um banquete.
Mas há trabalhos que a gente faz não pela alegria que proporcionam, e sim pelo produto final. Uma pessoa que trabalha por causa do dinheiro que vai ganhar é o exemplo típico.Para ela o que importa não é o que está fazendo. Ela trocaria prazerosamente o que está fazendo por outra atividade totalmente diferente, desde que lhe rendesse mais dinheiro. Melhor seria se ela ganhasse 40 milhões na loteria para não precisar mais trabalhar pelo restante de sua vida. Para tais pessoas, o trabalho não é brinquedo; é trabalho forçado. Elas não sabem que o preço dessa inatividade rica é o tédio. Estão condenadas a infelicidade.
Segundo, é preciso que a gente ame e seja amado. Amar e ser amado é isso: pensar numa pessoa ausente e sorrir. Ficar feliz sabendo que ela vai voltar. Ter alguém que escute e dê colo, sem dar conselhos. Andar de mãos dadas conversando abobrinhas. Olhar nos olhos da pessoa e sentir que eles estão dizendo: "Como é bom que você existe!". Jogar frescobol com ela. Ser, simplesmente, sem pensar que há um par de olhos nos vigiando para nos cobrar algo. Conversar madrugada afora, sem pensar em sexo.
Guimarães Rosa disse mais ou menos o seguinte: a coisa não está nem na partida nem na chegada. Está é na travessia. A felicidade não acontece no final, depois da transa, depois do casamento, depois do filho, depois da formatura, depois de construída a casa, depois da riqueza, depois da viajem.
A felicidade acontece no dia-adia. Felicidade é fruto na beira do abismo. É preciso colhê-lo e degustá-lo agora.
Amanhã, ou ele já caiu, ou você já caiu ...........

Ruben Alves ( especial para o Almanaque Unimed )

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